Diálogos Culturais – Comunidade Quilombola Tia Eva
- Tipo da Atividade: Mobilização
- Data: 13/11/2024
- Participantes: 08
- Parceiros: Associação Beneficente dos Descendentes de Tia Eva
Local: Comunidade Quilombola Urbana Tia Eva Rua Eva Maria de Jesus, 273 – Bairro Jardim Seminário – Campo Grande/MS
A Comunidade Quilombola Tia Eva, localizada em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, é reconhecida pela Fundação Cultural Palmares como uma comunidade urbana remanescente de quilombo desde 1905. Fundada por Eva Maria de Jesus, conhecida como Tia Eva, a comunidade possui um patrimônio cultural significativo, incluindo a Igreja de São Benedito, construída em 1912, e celebrações tradicionais como a Festa de São Benedito, realizada anualmente desde 1919. Inserida no âmbito das iniciativas vinculadas ao Mês da Consciência Negra, a ação promovida pelo Comitê de Cultura de Mato Grosso do Sul foi concebida como uma estratégia de engajamento comunitário e fortalecimento das manifestações culturais quilombolas. A Comunidade Quilombola Tia Eva, localizada em Campo Grande – MS, foi selecionada devido à sua relevância histórica e cultural, configurando-se como um polo representativo da cultura afro-brasileira no estado. A reunião contou com a participação dos moradores da comunidade, convocados pela liderança local.
A iniciativa visou promover a escuta ativa e o mapeamento das necessidades culturais da comunidade, além de disseminar informações sobre políticas públicas e mecanismos de fomento cultural, e teve como base metodológica princípios de participação cidadã, escuta ativa e diálogo intercultural, sendo estruturada para abordar tanto questões práticas quanto teóricas relacionadas à gestão cultural. Nesse sentido, a atividade possibilitou não apenas a coleta de informações essenciais para o planejamento de ações futuras, mas também a conscientização dos moradores sobre seus direitos culturais e as oportunidades de acesso a recursos disponíveis.
O evento foi iniciado com uma exposição conduzida por Romilda Pizzani – coordenadora da ação e educadora, produtora cultural e militante pelos direitos das mulheres negras, com foco em políticas públicas e fortalecimento da consciência racial, que enfatizou a importância da integração das comunidades quilombolas nas políticas públicas culturais. Foram apresentados os principais marcos normativos e mecanismos de fomento vigentes, incluindo a Lei Aldir Blanc e o Fundo Municipal de Incentivo à Cultura (FMIC), além de destacar os desafios inerentes à centralização das informações e o papel do Comitê na descentralização e democratização do acesso aos recursos culturais.
A escuta ativa da comunidade permitiu identificar um conjunto de demandas estruturais e operacionais que impactam diretamente a gestão e o desenvolvimento cultural local:
Elaboração de Projetos Culturais
A comunidade enfrenta obstáculos significativos na compreensão das exigências técnicas para a elaboração de projetos culturais, incluindo a estruturação de portfólios, formatação de propostas para editais e detalhamento de planos de execução. Essa lacuna técnica compromete a capacidade de acessar recursos financeiros disponíveis e limita o impacto de suas iniciativas.
Fortalecimento das Manifestações Tradicionais
As manifestações culturais da comunidade, como a festa de São Benedito, têm sido historicamente subestimadas em processos avaliativos conduzidos por profissionais que desconhecem ou desconsideram as particularidades culturais quilombolas. Esse descompasso entre as especificidades locais e os critérios de avaliação resulta em marginalização e desvalorização do patrimônio imaterial da comunidade.
Preservação do Patrimônio Cultural
A conservação da igreja histórica da comunidade foi destacada como uma prioridade crítica. Com mais de um século de história, o edifício enfrenta riscos de degradação acelerada devido à ausência de recursos financeiros e técnicos para sua manutenção. A ausência de investimentos nessa área compromete tanto o valor simbólico quanto o potencial turístico do local.
Afro-Turismo
Foi identificada uma demanda para o desenvolvimento de iniciativas de afro-turismo que valorizem a história, a cultura e os saberes da comunidade. Apesar do reconhecimento do potencial econômico e cultural dessa estratégia, há uma necessidade de planejamento estruturado, capacitação local e articulações institucionais para a viabilização de roteiros e experiências turísticas autênticas e sustentáveis.
Essas problemáticas ilustram o cenário complexo enfrentado pela Comunidade Quilombola Tia Eva, destacando a importância de soluções integradas que considerem as especificidades culturais, históricas e econômicas locais. Com base nas demandas identificadas, Rayanne Jarcem, coordenadora metodológica, delineou estratégias de intervenção, destacando:
A implementação de oficinas técnicas em parceria com o IFMS, voltadas à capacitação em gestão cultural.
O fortalecimento da participação da comunidade em editais por meio de formação e consultoria personalizada, em alinhamento com as diretrizes previstas na Linha 2 – Formação e Apoio Técnico do Plano de trabalho do Comitê de Cultura MS.
A articulação com órgãos de preservação patrimonial para viabilizar a recuperação da igreja histórica.
A promoção de debates sobre o afro-turismo e sua potencialidade como ferramenta de desenvolvimento local.
Mesmo contando com apenas 8 participantes, a atividade foi considerada de grande relevância por seu contexto histórico e cultural. A justificativa para o número reduzido de participantes pode estar relacionada à natureza da comunidade, que é composta por aproximadamente 200 famílias, com uma dinâmica de organização interna que valoriza o papel de representantes e lideranças. Esses participantes atuaram como interlocutores diretos, permitindo que as demandas da comunidade fossem documentadas e articuladas, mesmo com a baixa adesão numérica. A atividade, apesar do público limitado, serviu como ponto de partida para ações futuras, conectando a comunidade a políticas públicas e fomentando estratégias de preservação e valorização cultural. Porém, para futuras mobilizações, seria essencial investir em estratégias de divulgação e engajamento que ampliem a participação comunitária, garantindo o cumprimento dos critérios quantitativos exigidos pelo PNCC e ampliando o impacto social da atividade.
A iniciativa buscou fomentar o diálogo intercultural e a integração comunitária. A partir dos dados coletados e das demandas expressas, destaca-se a necessidade de ações continuadas que priorizem a capacitação técnica, a conservação patrimonial e a promoção de uma gestão cultural inclusiva e participativa. O Comitê de Cultura de MS reafirma seu compromisso com a promoção da diversidade cultural e com o fortalecimento das comunidades tradicionais como agentes transformadores do cenário cultural do estado. Nesse sentido, foi firmado o compromisso de implementar as oficinas técnicas propostas, viabilizar a preservação do patrimônio local por meio de parcerias institucionais e ampliar a articulação para a efetiva valorização das manifestações culturais e do afro-turismo, promovendo soluções concretas e sustentáveis para as demandas da Comunidade Quilombola Tia Eva.

