XII Kuñangue Aty Guasu – Grande Assembleia das Mulheres Guarani e Kaiowá
- Tipo da Atividade: Formação
- Data: 28/11/2024
- Participantes: 60
- Parceiros: Kuñangue Aty Guasu, ANMINGA – Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade, Ministério Público Federal, Defensorias Públicas (da União e do Estado), Ministério das Mulheres, SESAI, FUNAI, Secretaria-Geral da Presidência da República e Ministério dos Povos Indígenas
- Local: Terra Indígena Guarani Kaiowá Limão Verde – Amambaí – MS
A Kuñangue Aty Guasu, ou Grande Assembleia das Mulheres Kaiowá e Guarani, é uma organização sem fins lucrativos liderada por mulheres indígenas das etnias Kaiowá e Guarani, localizada no Cone Sul do Mato Grosso do Sul, Brasil. Fundada em 2006 no território sagrado de Nãnderu Marangatu, no município de Antônio João, a assembleia surgiu da necessidade de criar um espaço autônomo para discussões políticas e tomadas de decisão pelas próprias mulheres indígenas, e promove encontros anuais como principal espaço de articulação política para abordar questões como demarcação de terras, direitos sociais, violência de gênero e do Estado, racismo, intolerância religiosa, soberania alimentar e impactos ambientais. A assembleia reúne representantes de várias comunidades, movimentos sociais, autoridades e pesquisadores, com participação média de 400 a 600 pessoas, sendo um marco na defesa dos direitos humanos e na valorização das mulheres indígenas. Em 2024, ao completar 18 anos, a XII Grande Assembleia, realizada na Terra Indígena Limão Verde, no município de Amambaí – MS, entre os dias 28 e 30 de novembro de 2024, contou com a presença do Comitê de Cultura de Mato Grosso do Sul. O evento, que comemorou os 18 anos de articulação da Grande Assembleia das Mulheres Guarani e Kaiowá, foi uma experiência rica e transformadora de mobilização social e fortalecimento de redes culturais. Nesta edição, houve a colaboração da Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (ANMIGA), que liderou a primeira etapa da Conferência Regional das Mulheres Indígenas – Etapa Aroeira, reunindo representantes dos biomas Cerrado, Pantanal, Caatinga e Mata Atlântica
Contribuição do Comitê de Cultura
A participação do Comitê de Cultura de Mato Grosso do Sul na XII Grande Assembleia da Kuñangue Aty Guasu e na Conferência Regional das Mulheres Indígenas – Etapa Aroeira, realizada na Terra Indígena Limão Verde, no município de Amambaí – MS, durante os dias 28, 29 e 30 de novembro de 2024, sendo que a equipe do Comitê participou integralmente das atividades. O objetivo foi constituir uma ação de mobilização social e escuta territorial, assessoramento técnico e articulação institucional junto a coletivos e lideranças indígenas do Cone Sul do Estado, assim como dos biomas Cerrado, Pantanal, Caatinga e Mata Atlântica. A partir da última atividade preparatória, Encontro de Planejamento da Kuñangue 2024, realizada em abril, na Comunidade Indígena Yvy Rapykue – Aldeia Laranjeira Ñanderu, em Rio Brilhante, o Comitê manteve presença contínua no processo organizativo. A Coordenadora Geral, Fernanda Cristina Teixeira, e a Técnica Administrativa, Maria Clara, atuaram ativamente no apoio técnico e logístico Desde a preparação para o evento, em diferentes frentes:
– Apoio técnico na elaboração de ofícios, convites e listas de autoridades;
– Articulação institucional com o DSEI-MS, resultando na viabilização de água potável durante a Assembleia, item fundamental para garantir as condições mínimas de realização da atividade;
– Produção executiva e mobilização comunitária, incluindo orientação logística, elaboração de pautas e suporte direto aos coletivos organizadores;
– Participação presencial no evento, com atuação na coordenação de grupos de trabalho, escuta das lideranças, sistematização e relato das discussões.
Nesta atividade, a equipe presente foi constituida pela coordenadora geral, Fernanda, a assessora técnica do Comitê, Priscila Anzoategui, antropóloga e advogada, e a técnica de comunicação, Maíra Espíndola, colaborando com a produção geral da atividade, coordenação de grupos de trabalho e sistematização das discussões. A Coordenadora Geral atuou ativamente na coordenação de grupos de trabalho, escuta das lideranças, sistematização e relato das discussões. Assim, a atuação do Comitê foi a partir de uma abordagem intercultural e interdisciplinar, fundamentada em metodologias participativas e em princípios como a escuta ativa, a valorização dos saberes tradicionais e a territorialização das políticas culturais. A metodologia aplicada ao mapeamento das redes culturais indígenas baseou-se em práticas próprias de transmissão de conhecimento das culturas Guarani e Kaiowá, priorizando a oralidade, os relatos de vivência e os vínculos comunitários, permitindo identificar fluxos e interações entre coletivos e territórios, articulando redes culturais em dimensões locais e intercomunitárias. A escuta qualificada também evidenciou a centralidade das Ñandesy (rezadeiras e matriarcas) como guardiãs dos saberes tradicionais e articuladoras comunitárias. Foram pautadas, pelas lideranças presentes, demandas por políticas culturais que reconheçam os rituais, as casas de reza e os espaços simbólicos como pilares da identidade indígena. O Comitê buscou, assim, alinhar os instrumentos do Ministério da Cultura às realidades locais, fomentando o debate sobre a adaptação dos editais, linhas de financiamento e mecanismos de participação aos contextos das áreas de retomada.
A atividade também possibilitou a ampliação de articulações com instituições públicas, como o Ministério Público Federal, Defensorias Públicas (da União e do Estado), Ministério das Mulheres, SESAI, FUNAI, Secretaria-Geral da Presidência da República e Ministério dos Povos Indígenas – com destaque para a presença da Ministra Sonia Guajajara. Foram ainda realizadas articulações estratégicas com a Kuñangue Aty Guasu e a ANMIGA, reforçando o diálogo contínuo com redes culturais estruturantes.
Como desdobramento concreto da atuação do Comitê, destaca-se o assessoramento técnico à Kuñangue Aty Guasu para a execução da emenda parlamentar da Deputada Célia Xakriabá (PSOL-MG), via Instituto Shirley Krenak, voltada à prevenção da violência contra mulheres e crianças indígenas, no processo de certificação das casas de reza como Ponto de Cultura e no processo se solicitação de reconhecimento das casas de reza como patrimônio cultural através do IPHAN. Por fim, a atividade resultou na articulação da presença das mulheres indígenas nos Seminários “Culturas, Identidades e Religiosidade Afro-brasileira e Indígena” (Corumbá/MS) e “Mulheres Indígenas, Quilombolas e Camponesas: Saberes, Experiências e Resistências” (Campo Grande/MS), a serem realizados pelo CCMS, reafirmando o compromisso com a integração das redes culturais e com a promoção da equidade nas políticas públicas de cultura.
A Assembleia reuniu cerca de 400 participantes, entre agentes culturais, lideranças indígenas, organizações da sociedade civil e representantes governamentais, consolidando-se como espaço de construção coletiva, escuta intercultural e fortalecimento das estratégias autônomas de gestão e resistência dos povos originários. Importante ressaltar que a realização da XII Grande Assembleia da Kuñangue Aty Guasu partiu de uma perspectiva intercultural, orientada pelos princípios da escuta qualificada, do respeito à autonomia dos povos indígenas e da valorização de seus modos próprios de organização social e política. Nesse contexto, a coleta de listas de presença formais não foi priorizada pela equipe organizadora, uma vez que os propósitos centrais da atividade estavam voltados à construção coletiva, ao fortalecimento das redes territoriais e ao reconhecimento simbólico e político das mulheres Guarani e Kaiowá como protagonistas de suas próprias pautas e estratégias de resistência. A dinâmica da Assembleia seguiu protocolos culturais próprios, nos quais o registro formal individualizado não representa, necessariamente, o pertencimento ou engajamento dos participantes. A centralidade da oralidade, da coletividade e da ancestralidade nas práticas de participação política indígena demanda abordagens sensíveis e respeitosas às epistemologias tradicionais. Nesse sentido, a prioridade foi garantir um espaço de acolhimento, escuta, partilha e construção, em que as lideranças e coletivos presentes pudessem se expressar livremente, sem a imposição de formatos burocráticos que, por vezes, não dialogam com os modos de organização comunitária dos povos originários.

